Humano, demasiadamente humano

“O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo.”
-- J. Saramago in “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”

 Às vezes, sinto que não tenho sido justo com esse rapaz: Jesus de Nazaré; ou, como a maioria de nós o conhece -- Jesus Cristo. Pensando bem, ele é, provavelmente, o personagem mais injustiçado da história humana ocidental: logo ele, que, aparentemente, não nos deixou nenhum escrito, foi transformado, inicialmente, por seus supostos discípulos; e, depois, por aqueles que criaram o embrião da instituição mais perniciosa de todos os tempos -- a igreja católica --, em Deus! Tudo isso de forma injusta e à revelia!

 Mas, nunca foi Deus -- e penso que nunca quis sê-lo. Conheço alguns escritos sobre ele, além daqueles constantes na bíblia. Foi homem politizado e, portanto, fortemente contrário, não somente à ocupação militar romana de sua terra, mas principalmente, às profundas desigualdades sociais vividas por seu povo. Não é segredo que, à época de sua vida, a sociedade judaica sofria com a forte concentração de renda por poucos “nobres” e sacerdotes. Algo como uma elite burguesa, que se apossava de quase toda riqueza produzida por uma multidão de “miseráveis”. Jesus deve, inclusive, ter sido uma mulher – Maria Madalena, talvez? Ao final das contas; se, de fato nasceu por partenogênese, então era virtualmente impossível ser um homem: mas, uma mulher como líder revolucionário seria algo impensável naquela época, pelo menos nas culturas judaicas e romanas...

 Tivesse nascido na Europa nos séculos XIX ou XX, estaria certamente à frente das lutas socialistas e democráticas do povo trabalhador! Fosse latino americano, teria conhecido Guevara e lutado ao lado ‘dos Castro’; teria enfrentado os regimes totalitários que se instalaram em nosso subcontinente nas décadas de 60-70 do século passado. Fosse indiano, não estaria apenas ao lado de Gandhi, mas à frente deste, na luta pela descolonização definitiva da Índia. Enfim, tudo isso serve apenas para ilustrar que esse Jesus ou Madalena não teve nada de “‘divino”, mas de humano -- e isso sim é relevante! Esse é o meu ponto: humanizar Jesus (ou Madalena)! Não morreu na cruz para “nos salvar” e para ser um Deus, mas por ser demasiadamente humano ao perseguir suas idéias políticas/sociais -- e isso chama-se amor!

 Desejo boas festas e tudo o melhor para todos nós, mulheres e homens -- seres humanos deste planeta!

 Lembremo-nos, pois, não apenas neste Natal -- aliás, é bem pouco provável que Jesus tenha nascido nesta data (a Igreja a escolheu por algum motivo de “propaganda”), mas sempre, que Jesus (ou Madalena) foi um humano como nós. Preocupou-se; ou melhor, ocupou-se com as injustiças sociais e a exploração de seu povo; queria uma sociedade justa e com oportunidades semelhantes para todos, independentemente do berço!



 C. J. C.

Dezembro de 2013.



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